ADÃO
Crônicas  |  Quinta-feira, 14 Outubro, 2021 16:38  |  Visitantes e Leitores: 1332  |  A+ | a-
Dirceu Badini

Sem muito o que fazer, fiquei matutando sobre a criação do mundo. Não tive nenhuma intenção senão a de deixar a minha massa cinzenta vagar pelos fatos que já chegaram por lá e quais as conclusões que ela poderia tirar disso, uma vez ser bastante imparcial nas suas avaliações. Faz a dela, pouco importando se outros gostem ou não. Só faz pensar.
Fui informado de que no início foi tudo maravilhoso. O Criador exagerou, deu banho de bola em cima da precisão e das certezas matemáticas, físicas, enfim, das ciências exatas. Este mundão de universo funciona como engrenagens calculadas e dimensionadas de maneira seguramente corretas ou não mais estariam aí. Tempo suficiente para provocar merda existe bastante. Sem dúvidas há também marginais assumidos que ainda insistem em bagunçar, chutar o pau da barraca, haja vista asteroides, cometas e outros vagabundos celestes. Mas, no todo, representam quase nada.
Mas se a gente atentar para a criação dos seres vivos, o Criador já não foi tão esmerado assim. Tenho a incômoda impressão de que naquela altura dos fatos e pelo tempo decorrido entre uma coisa e a outra, ele já estava meio entediado, desmotivado. Pode ser até por não acontecer tudo tão certinho como ele queria, ou simplesmente julgou que jamais conseguiria fazer nada igual à obra anterior. A verdade é que não houve o mesmo entusiasmo nem o mesmo cuidado. Desconfio até de certo desleixo.
Quantos seres foram criados e depois destruídos pela evolução? Quanta raça ficou para trás, como as pesquisas recentes estão mostrando? Tudo me leva a crer que os viventes foram colocados aí e se lhes deram os ombros, deixando-os ao léu. Não funcionou este? Morre! Vem outro, ocupa o espaço e toca o bonde. Os que não se adaptaram se “lascaram”. Em parte com muita propriedade, pois até hoje eu não consegui atinar com a utilidade dos dinossauros. 
Caramba! Pra que aquilo? Um tremendo mau gosto. A não ser porque deles se originaram as aves, sempre bonitas, plumagem linda, cantos maravilhosos e carninha da melhor qualidade, eu não sei para que existiram. Bem feito já terem ido pra Cucuia! E já foram tarde demais!
Mas o pior ainda estava por vir. Fazer o homem, criar a espécie humana. Pela história que a gente conhece – e é esta que meu cérebro primeiro aprendeu – não houve o mínimo cuidado ou esmero pela obra. Talvez até por premonição da fria em que estaria prestes a se meter. Se isso for verdade, pra que fez, então? Deve ter sido muito pressionado, forças ocultas agiram, mas que estava sem vontade nenhuma, estava!
O autor juntou um punhado de terra, modelou de qualquer jeito, soprou, criou o homem e depois, não sei por que razão, não repetiu a receita. Ao invés, retirou uma costela e fez a mulher, naturalmente para ser um pouco diferente, mas derivada do homem – machismo explícito – ou por alguma outra razão não sabida, achou que a primeira tentativa não fora a ideal. Denota-se aí uma dúvida quanto à qualidade do produto recém-criado.
 Realmente na anatomia da mulher há alguns detalhes muito interessantes e imprescindíveis difíceis de serem moldados com terra seca. Pô! Montinho por montinho, era só trocar de posição: os de baixo dos homens para cima e aumentar um pouco nas mulheres. Lá embaixo, nas fêmeas, um risquinho com qualquer galhinho seco e pronto! O segundo paraíso estaria criado e a máquina para fabricar outros humanos prontinha para funcionar. Só restava uma pequena colaboração do companheiro.
Isto feito, deu-lhes o primeiro paraíso para morar com tudo que o mais exigente mortal dos seres podia desejar e uma recomendação vital: multiplicar. Mas sem comer a maçã. Também comer maçã, frutinha chinfrim daquelas com tantas outras coisas boas por lá, não seria um grande sacrifício.
Adão, com toda certeza, foi um grande bobalhão. Ocorreu-me a ideia de que sem muita ajuda aquele cara não iria a lugar nenhum em termos de cantar a Eva, dar um bom amasso e mandar o ferro nela. Veja você! Ficaram lá um não sei quanto de tempo os dois peladões sem nada o que fazer e o melhor não podiam porque simplesmente não sabiam como. 
Houve aí uma grande falha do apoio logístico. Qualquer bichinho mais bestinha do mundo estava mais do que calejado de como agir para se reproduzir, mas aos humanos não ensinaram. Como uma minhoca pode ter dado sua primeira transada sem que antes lhe tenham orientado tim-tim por tim-tim? Naturalmente acharam que sendo de inteligência superior, cedo, cedo os humanos achariam o mapa da mina.
Imagino, por outro lado, os chefes embasbacados, constrangidos e tímidos para ensinar Adão dar uma boa penetrada na Eva. Precisava? Um marmanjão daqueles! A gente até entende, vá lá! Santo ensinar coisas libidinosas era um tanto estranho, baita saia justa e não havia ninguém com experiência, claro! E ainda naquela época de puro pudor e outras tantas caretices. 
Mas estava demorando muito. E se um deles morresse? O autor teria de começar tudo outra vez, era parte de um contrato ou coisa que o valha e o mestre de obras, pelo que ouso imaginar, não estava com esse saco todo não. Foi aí o acontecimento da serpente na história e todos sabemos o que aconteceu: aquele bafafá! Escolheram muito mal a interface, se ligou? Faltou habilidade, experiência, faltou cabeça certa e no momento exato. Faltou cultura, faltou feeling! Intempestivo! Escolha política, certamente. Isto continua até hoje. Incrível!
Achei o responsável pela obra ingênuo em certas circunstâncias ou fui mal-informado Como se podia fazer a prole crescer sem comer a tal maçã? Pode ser até que toda aquela história da serpente no meio dessa tragédia foi mais uma questão de se criar um clima favorável para o pobre Adão e dirimir-lhe a culpa. Culpa?
Eu me vejo, às vezes, bastante incrédulo acerca disto e, na dúvida, o defendo. Maçã não se parece nadinha com aquilo que ele teria de comer para gerar filhos. Aceitemos que Adão soubesse claramente o que era comer para manter a vida e comer para originar novas vidas. Se examinarmos bem a maçã pelo lado onde fica o cabinho, aquele buraco afunilado, escuro e avermelhado, lembra mais outra estrutura anatômica que fica localizada na vizinhança, muito próximo mesmo do que seria o seu alvo, aquilo que ele deveria comer para os moleques nascerem.
Será que Adão confundiu? Que ele era burro e babaca não me restam dúvidas, mas a esse ponto? Eu até admito que a esperta serpente, sempre matreira, sacana, bichinho desavergonhado, aconselhou-o propositalmente de maneira equivocada e ele entrou pelo cano. Pegou a Eva por trás e... Crau! Foi flagrado num inusitado ultraje e pronto! Logo no Paraíso? Deu no que deu!
Já disse: faltou feeling. A logística emperrou. Serpente nunca seria o bicho mais apropriado para ensinar Adão coisa tão óbvia, mas tão importante. Estou confuso! Por que não passaram a batuta ao coelho? Ou ao macho da codorna? Ninguém duvida das suas habilidades neste assunto. E ambos já existiam naquela época. Transam até morrer, se deixar. Dão a vida por uma fêmea! Será que o autor desconhecia isto? Duvido! Houve dedo maquiavélico neste episódio.
Pela primeira vez na história da humanidade houve a consciência da lágrima. E não foi pela expulsão! Se o primeiro homem tivesse surgido em certos lugares da Terra, com aqueles birrinhos merrecas e mais parecidos com aplique de piercing na região escrotal, teria sido mais ameno, uma ardência bem tolerada ou até não causar nenhum estrago. 
Mas o homem surgiu na África e consta que a caceta dos de lá deixa qualquer jumento de queixo caído e pronto para se submeter à análise, tal o desencanto e o complexo de inferioridade. Quase posso garantir ter sido a primeira vez que lágrimas brotaram dos olhos de Eva, pois até então não havia nenhum motivo para depressão e choro. E mais: deve estar aí a origem da beleza literária que até hoje me machuca os ouvidos: “ser mãe é sofrer no paraíso”. É só tirar o véu das letras, gente!
Não duvido. A reação foi grande demais e eles foram expulsos com toda a rigidez possível para o ultraje. Até espada de fogo foi usada por aquele anjo com cara de zangado, dono do pedaço e naturalmente mal-encarado. Imagino fosse mesmo inconcebível naquela época violentar o de trás, o bozó, e como ainda hoje muitos gostam e praticam, admito ser resquício daquela investida enganosa do atrapalhado Adão.
Mas, que semelhante fruta ele poderia comer sem transgredir as normas e fazer Eva engravidar – claro – já que essa era a principal finalidade do evento com aquela enorme torcida a favor?
Com toda certeza a tal fruta não mais existe atualmente. Não conheço nenhuma hoje, mas no passado remoto pode ter havido alguma com a parecença pretendida. Se quisermos comparar com alguma coisa da atual natureza, será mais fácil com flores ou sementes. 
Nos dias atuais, com a moçada soltando a franga pra valer, descorando os pentelhinhos, caprichando numa depilação e deixando somente aquele montinho no meio, lembra um caroço de manga bem madura, depois de ter sido retirada toda a polpa e bem chupado... 
Meu Deus do Céu! Caraca, Adão! Você exagerou camarada! Agora dá pra entender o porquê daquela reação tão grande e inesperada dos mandachuvas da ocasião! Você confundiu a palavra comer, xará! Putz, Adão! A língua o traiu... Hiii! Você se trumbicou todo, cara! Mal entubou a Eva e ainda nos deixou numa rabuda dessas, ô imbecil! Ah! Francamente

05/12/2007
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