TO MALUCO!
Crônicas  |  Sábado, 19 Março, 2022 10:57  |  Visitantes e Leitores: 1481  |  A+ | a-
Dr. Dirceu Badini

Resolvi trocar minha carteira de identidade. A foto que lá existe não mais me representa e a assinatura também não mais me pertence. Era muito jovem e fico olhando para aquele cara que está estampado ali e mais me emputeço com o passado.
Além disso, também queria trocar por causa da assinatura. Nesta terra de gente bitolada, especialmente nas coisas públicas, passava por fatos e morria de raiva quando alguém dizia que tinha de assinar conforme estivesse na carteira. Cacete! Há mais de cinquenta anos não a uso e tinha que fazer um treinamento ali na vista do funcionário, coitado! – Apenas cumprindo o que lhe mandavam fazer. Pô! Vovô me dizia que homem de verdade (viveu numa época de machistas e nem por isso era tão aficionado assim) não precisava assinar nada, bastava um fio da barba colado ao documento.
E agora? Fio de barba não vale mais nada. Assinatura vale? Vale porcaria nenhuma! Você assume um compromisso, assina, reconhece firma (?) e no fim contrata um bom advogado expert nos furos das leis vigentes e tudo aquilo vai pro brejo com vaca, bezerro e tudo. E ainda leva o barbicacho junto! 
Você, lendo esta droga até aqui, tem um argumento maior para eu tentar entender? A impressão que tenho que leis são feitas para deixarem furos para os espertos aproveitar. Coisa estranha: um direito que nem sempre é direito. Coisas dos humanos. Deus me livre! (peço perdão antecipado pelo que vou dizer: muitas vezes eu me envergonho de ser humano. Em certas ocasiões eu me sentiria melhor se fosse um bode, por exemplo. Bode machista, claro, não gostaria de ser cabrita! Notaram mais um defeito do ser humano, lógico, como eu?).
Tudo isto que coloquei aqui até agora foi antes de tentar modificar minha carteira de identidade. Ah! Se eu soubesse como é difícil nesta terra estar de bem com as leis! Quantas dificuldades! Ta com saco? Vou contar! Se quiser, para por aqui, pois duvido que a maioria dos que lê este texto já não passou por algo semelhante. Pode rir à vontade de mais um trouxa! Num to nem aí! Sou brasileiro e não desisto nunca! (Que furada!).
Fui ao DETRAN. Todos sabem que é lá que se adquire a CI. Conversamos sobre o fato; mostrei a minha antiga e tudo mais. A moça, gentilmente, acessou não sei o que no micro e mostrou-me que meu nome não era aquele. Defino: estava nos arquivos do Instituto sei-lá-que: meu sobrenome era BADINE. Bronqueei! (meu nome eu quero honrar! Se serve para alguma coisa, só Deus sabe.) Mostrei um montão de documentos meus e em nenhum deles continha a palavra Badine, como o “sistema” dizia. E aí? Tinha de fazer uma “certidão-sei-lá-do-quê” e voltar para poder mudar o nome no “sistema” (gravem, por favor, bem esta palavra. Está muito em voga agora. Todos jogam a culpa no sistema). Mostrei também uma foto atual. Não serve, pois o tamanho tem de ocupar toda essa área. Pensei: se quiser mesmo uma carteira nova aguente firme!
Fiz a fotografia. Não serve! Está muito clara e amarela. Foi aí que eu me detive. O rapaz que fez a foto achou que eu estava opilado, com hepatite ou coisa semelhante. Amarelo para tudo que é lado. Até nos cabelos. Aceito branco, amarelo não. Não dá mais para mim. Ah! Precisava também de uma certidão de casamento e tudo seria resolvido.
Com certidão, fotos e DUDA pago, voltei lá. Não pode! Tem que ter a tal “certidão-não-sei-lá-do-quê”. Descompensei! Dei o maior piti! Pô! Aquela era a sexta vez que eu estava lá para o mesmo fim. Um diz uma coisa, outros dizem outras e a gente se f---! Não briguei com ninguém, mas disse solenemente para um senhor de meia-idade, pessoa magnífica que não sei o nome, trabalha à tarde e que se dirigiu a mim pelo nome:
 – Para aonde eu terei que ir daqui a pouco não vou necessitar de CI, CPF, carteira de motorista e escambau. Ou desço pras profundas ou subo para S. Pedro, disse-lhe depois de me advertir que com aquela carteira eu não poderia sair do país.
 – Nós não temos nenhuma condição de fazer aqui no micro qualquer alteração na sua documentação. Temos que mandar para o Rio para lá modificarem o que está errado e corrigir!
Certo! Se fosse assim tão fácil qualquer um trocaria um montão de informações nos bancos de dados do “sistema”! Entendi! Burro é uma coisa que não acredito e não aceito ser.
A moça que digitava olhou para certidão de casamento e me disse que eu havia casado em Além Paraíba. Disse-lhe que não. Foi em Pirapetinga. Ela teimou que não e aí veio aquele lampejo e eu concordei. Vocês estão achando que não sei onde eu me casei? Nada! Possivelmente aquela exímia e educada digitadora ia pedir-me outra “certidão-de-sei-lá-do-quê” do casamento também. Fiquei na minha! Agora, tanto me faz ter casado lá ou acolá. Já era!
Bom. Mandaram toda aquela papelada para o Rio. Um mês de espera. Aí eu voltarei lá para saber se há alguma exigência quanto à “certidão-sei-lá”… Para retificar uma coisa que está errada, não por minha culpa, sabem por que? A besta digitou e achou Badini, com “i” no final estaria errado. E eu tenho que dar um duro danado, enchendo minha paciência já sem muito espaço para provar que eu estou certo. 
Ah! Me dá o meu boné! Se algum dia vocês encontrarem pelas estradas um maluco com a barba branca enorme, sujo e maltrapilho e com um saco de inutilidades nas costas, aposte e acerte em cheio: eu!
Ah! Eu to maluco! (Bis! Bis!).
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