TEM GATO NA TUBA
Crônicas  |  Quinta-feira, 12 Maio, 2022 8:38  |  Visitantes e Leitores: 1713  |  A+ | a-
Decio O. Elias
 
Lá pelos tempos que hoje chamamos, sem qualquer razão ou por alguma boa razão, de "bons tempos", as velhinhas do bairro costumavam cochichar umas com as outras, tapando a boca com uma das mãos, ao dizerem: - Tem gato na tuba!, quando queriam lembrar que deveria haver algum motivo desconhecido, melhor dizendo, suspeito, pelo qual todas elas pagavam pelo pão que seu Serafim entregava nas portas das suas casas todas as manhãs, exceto a jovem e bonita viúva da casa da esquina. Xeretar a vida alheia era apenas uma das múltiplas situações em que a expressão "tem gato na tuba" cabia perfeitamente, quando se queria indicar algum grau de suspeição na atitude de alguém. Se, no futebol dos domingos, o treinador de um time substituía um jogador habitualmente produtivo por outro menos experiente, os torcedores mais fanáticos já gritavam a uma só voz: - Tem gato na tuba! Se o jovem recém contratado era visto na direção de um carro novo dando carona à mulher do patrão, o porteiro da empresa já pensava "tem gato na tuba", sem se expressar é claro, porque seu emprego valia mais que sua opinião, fosse qual fosse, sobre as caronas que a esposa do dono da empresa gostava de pegar.  
Sempre que se queria dizer que alguma coisa poderia conter algo a mais do que aparentava ou que alguém que deveria se comportar de um modo estava se comportando de outro modo, cabia, naqueles tempos, a expressão "tem gato na tuba".
Badulaques verbais são, hoje em dia, bastante comuns. Em geral, se originam em grupos específicos - as tribos - e, quando bastante representativos, chegam até a praia, o espaço mais democrático do mundo moderno, particularmente, a praia de Copacabana, frequentada por todas as tribos que coexistem em um convívio habitualmente pacífico e intimista, exceto pela tribo dos larápios de celulares, verdadeiros párias carentes e justos merecedores de boas "porradas", pela obscenidade do modo que elegeram para "fazer a vida".
Uma outra expressão, do mesmo modo, bastante conhecida em sua época, especialmente, fora do meio acadêmico é: "Nesse angu tem caroço! ". Ambas levantam vultosas suspeitas de que há alguma coisa errada, desconhecida, irregular, ilegal, imoral, oculta, invisível, inexplorada ou qualquer ideia nessa mesma direção.
Uma maneira mais requintada e elegante de expressar o mesmo sentimento da expressão "tem gato na tuba", ou "nesse angu tem caroço" seria uma terceira expressão "há algo de podre no Reino da Dinamarca" que, como a história do teatro descreve foi criada na peça Hamlet, de Shakespeare, para qualificar uma situação semelhante.

O mundo moderno, repleto de tecnologia de última geração, bem explicado e mal entendido pela física quântica, com assombrosos progressos na ciência, experiente em viagens espaciais pilotadas ou não, vez por outra, nos apresenta fatos para os quais a enorme suspeição levantada permitiria dizer com boa margem de acerto, simplesmente, que: - Tem gato na tuba!
Trata-se aqui de mais uma aplicação, agora contemporânea, da expressão ansiosa e anciã que - naqueles bons tempos, repito - queria dizer que há alguma coisa de cuja existência, exatidão ou legitimidade não se tem certeza ou, se duvida bastante!.

Ora, ora, a tuba é um enorme instrumento musical metálico, de sopro, com uma grande boca criado para preencher a região grave em sonoridade e extensão. Ainda é usada em grandes orquestras e, nos bons tempos, era parte invariável das bandas.
O "gato na tuba" foi criado à partir da lenda de que um músico de uma bandinha percebeu que seu instrumento emitia um som estranho, semelhante a um miado e ninguém sabia qual a causa. A lenda ganhou uma marchinha carnavalesca intitulada "Tem Gato na Tuba", que relata o miado do gato originado no instrumento. Foram seus autores, Alberto Ribeiro e João De Barros. As tubas e as bandas de que eram parte inseparáveis tocavam em todos os coretos existentes em qualquer cidade do Brasil, de Portugal e de muitas outras nações europeias. Os coretos eram muitíssimo comuns nas cidadezinhas pequenas onde a diversão era restrita ao convívio familiar, exceto aos domingos. Nesse dia nobre, a bandinha da cidade fazia seus concertos no coreto da pracinha central. E, nas bandinhas, a presença e participação da tuba como elemento central do ritmo era obrigatória.

A reiterada corrida dos partidos de oposição, particularmente o PSOL, ao STF para  contrariar todas as medidas e atitudes do presidente da república, não apenas encontra guarida mas, principalmente, transforma aquela corte no braço jurídico de uma  oposição ferrenha, fratricida, destrutiva, obstinada e tenaz, que prejudica imensamente o atendimento das necessidades da população a que o governo precisa servir. Trata-se de uma política rasteira e suja que, ao que parece, destina-se tão somente à inútil tentativa de desgastar a imagem de um governo nascido nos braços de um povo cansado de ser espoliado pelos governantes que, há décadas, se revezam no poder e tornam as coisas piores, como num poço sem fundo. É o caso de dizer-se, repetidamente, em alto e bom tom: - Tem gato na tuba!
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