DIVAGAÇÕES
Crônicas  |  Segunda-feira, 25 Outubro, 2021 11:52  |  Visitantes e Leitores: 1436  |  A+ | a-
Decio O. Elias
Adoro ler o jornal da manhã de pijamas e sem fazer a barba. Hábito comum e antigo dentre os aposentados que, como eu, ficamos viciados na leitura de materiais impressos. Como pode essa juventude ler as notícias naquela telinha minúscula, que pula rapidamente e nunca traz o mesmo texto de volta. Nem a mesma foto ou o mesmo anúncio. Aquela danada de telinha que forma opiniões incompletas e distorcidas sobre todos os assuntos, a menos que você seja um especialista em lidar com essa aparelhagem digital moderna e que se aperfeiçoa três ou quatro vezes por dia, tornando obsoleto à tarde o que era a última palavra ou "topo" de linha pela manhã. Loucura sem limites. Doideira sem paralelo.
Os jornais de hoje são modernos; não sujam os dedos de tinta e estão divididos em contra ou a favor. São "politizados" publicam a favor de quem os paga e contra quem deixa de pagar. Não tem fígado, muito menos coração: cérebro, nem se fala. Tem apenas estômago. São capazes de digerir qualquer coisa, desde que lhes afete a conta bancária, para maior. Mas isso é outra história! Não é pra agora.
Outro dia entrei num restaurante aqui, bem perto de casa, com a minha princesa; lá estavam um dos meus filhos e sua mulher, sentados frente a frente, felizes e sorridentes, cada qual freneticamente digitando o seu smartphone. Para minha surpresa, estavam conversando cada um com os seus amigos e, intercaladamente, conversando um com o outro. Selfies, lives, conferences e assemelhados entraram na prática e no jargão da turma jovem. Aqueles que preferem conversar com mensagens de áudio, não raramente, escondem as dificuldades com a palavra escrita, fruto da escola que não ensina, que aprova sem avaliar o progresso educacional e certifica sem merecimento. É a escola moderna que atravanca o país e oferece ao mercado milhões de despreparados para a maioria das atividades que requerem alguns neurônios habilitados a funcionar normalmente. Os que preferem a comunicação por texto cansam de cometer barbaridades linguísticas, verdadeiros crimes de lesa-pátria, afrontando o idioma nativo e, cinicamente, atribuindo seus grosseiros erros ao uso de um tal "dialeto" oficial da internet.
De verdade, minha gente, não há nada melhor que ler um texto onde prolixo se refere a alguém que usa palavras em excesso e não, erradamente, ao que pode ir pro lixo. E por aí vai. A concordância deixou de existir não apenas no ideário político, mas, principalmente no texto escrito. "Eles tudo tava na balada" soa como uma pedrada no joelho de quem lê e gosta dos autores que primam pela concordância entre verbos adjetivos e pronomes. Sem exigir muito; há deslizes que advém da prática verbal do dia a dia e que são do domínio de escritores e editores; não é o nosso caso. Porém, primar por um certo nível de correção é essencial para quem pretende se fazer entender sem dificuldades. Há quem atribua essas dificuldades às modificações feitas com a intenção de universalizar o ensino, no melhor estilo "socializante". Claro que o resultado ai está, bastante "socializado" e que coloca todos no mesmo cesto de candidatos a subempregos a menos que, como alguns, sejam empreendedores e consigam algum sucesso na vida profissional.
Mas, vejam só, os erros com o emprego correto do idioma deixaram de ser privilégio dos frequentadores assíduos ou eventuais dos aplicativos de comunicação em massa. A própria imprensa tradicional tem, ainda que em menor escala, as suas pedradas na escrita. Talvez na vontade de aprontar a matéria para a publicação imediata, na mídia digital e na mídia impressa. O tempo urge. Tudo é para ontem. Cinco ou dez minutos a mais podem representar grandes perdas de competitividade. Pobre mundo moderno. As pessoas deixaram de apreciar como é gostoso ler o jornal da manhã de pijamas e sem fazer a barba.
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