VINHOS CAROS
Ao atender a porta vi que era o Ranulfo, amigo do peito, que tocava insistente a campainha. Depois do abraço convencional e já sem máscara no rosto, Rana, seu apelido de colégio, sentenciou: - Vim tomar um vinho com você. Tua adeguinha merece respeito.
Eu nunca iria desapontar um amigo de adolescência. Saquei a rolha de uma bela garrafa de Masseto 1997, merlot, (a bagatela de R$7.900,00). Quando estávamos quase encerrando a última taça, a Deusa, minha esposa, desligou o computador, trancou o escritório, juntou-se a nós e sussurrou suavemente no meu ouvido: - Querido, põe mais uma tacinha que eu também quero saborear essa delícia! Enquanto isso, vou pegar uns petiscos para nós. Conheço o gosto do Rana. Muito rapidamente saquei outra garrafa da adeguinha climatizada e abri o último Chateau Margaus 2010, cabernet franc (média de R$9.200,00 no mercado paralelo). Nesse intervalo a Deusa traz a bandeja de queijos, salames e torradinhas de primeira linha. Estávamos os três degustando e estalando os lábios quando o celular vibra. Era o Canavarro. Nem me deixou falar; disse apenas: - Hermano, estoy en las cercanias y como estas despierto voy a llevarte una botella del mejor vino del mundo, como gostam de dizer os argentinos. Chegou sorridente com a garrafa de Catena Zapata, malbec de Mendoza. Rapidamente enchemos as quatro taças, brindamos e, nesse exato momento, Rana deixou cair sua taça no chão. O barulho do impacto pareceu enorme e ressoou forte na minha cabeça. Estilhaços da taça se espalharam por toda a sala. Acordei, olhei para o relógio e vi que eram 03:45hs. Achei que o melhor a fazer naquele momento seria tomar ao menos um golezinho de vinho. Abri a geladeira; havia um restinho de Reservado Cabernet Sauvignon Concha y Toro (R$28,00 no Mundial); nem pisquei, enchi o copo e tomei quase num só golpe. Voltei pra cama e dormi outra vez. Feliz da vida!
É bom sonhar com vinhos caros, acordado ou mesmo dormindo....